depressão pós-parto é mais comum do que se imagina. No Brasil, são registrados mais de
 2 milhões decasos por ano, e eles não ocorrem somente quando acontece algum problema no parto.
 Mesmo nas situações em que a criança nasceu saudável e toda a família está feliz com a chegada do
novo membro, muitas mães sentem uma espécie de melancolia que não sabem explicar ao voltar para
 casa com o bebê.
Quando esse sentimento desaparece em alguns dias, não há motivo para preocupação. Na gestação e
 no período pós-parto, o organismo da mulher passa por uma verdadeira revolução hormonal que pode
 afetar o sistema nervoso central, o que justifica a presença de sintomas emocionais nos primeiros dias ou
 semanas depois do parto. Por outro lado, algumas mães sentem uma tristeza profunda muitas semanas
 após esse período. O sentimento fica cada vez mais intenso, a ponto de fazer com que elas percam o
 interesse pelas mais diversas atividades. É nesse momento que se configura a depressão.

1. QUAL É A DIFERENÇA ENTRE TRISTEZA MATERNA E DEPRESSÃO PÓS-PARTO?


A tristeza materna é quase fisiológica. Entre 50% e 80% das mulheres sentem alguma tristeza e
 irritabilidade que normalmente começam três dias após o parto, duram até 15 dias (no máximo) e
 desaparecem espontaneamente. Já a depressão pós-parto surge algumas semanas depois do nascimento
 e deixa a mulher incapacitada de realizar as tarefas básicas do dia a dia. É uma doença que precisa de
 um tratamento mais agressivo.

2. O TRATAMENTO EXIGE O USO DE MEDICAMENTOS?


Na grande maioria dos casos, sim. Embora algumas depressões desapareçam espontaneamente, uma
 porcentagem significativa se cronifica. Caso não seja tratado, o episódio agudo pode deixar um resíduo
que se confunde com a distimia, uma forma de depressão mais leve, crônica, que interfere na capacidade
 de raciocínio e no desempenho funcional. Muitas vezes, essa depressão contínua é considerada um traço
 da personalidade da mulher e, por isso, nenhuma providência efetiva é tomada.
Se a mulher teve depressão no pós-parto de um filho, a possibilidade de o quadro se repetir em outra
gestação é de 50%

3. OS REMÉDIOS PODEM PREJUDICAR O BEBÊ DURANTE O PERÍODO DE 

AMAMENTAÇÃO?


O efeito sedativo pode passar pelo leite e o perigo existe. Por isso, a orientação médica é imprescindível
para a indicação de antidepressivos específicos que passam menos para o leite materno e o esquema é
discutido com a mulher. Uma das sugestões é descartar o leite colhido algumas horas depois de tomar a
 medicação, aquele em que os componentes da droga estão mais concentrados, e oferecer o colhido mais
 tarde. A técnica diminui a exposição da criança ao antidepressivo e permite utilizá-lo durante o aleitamento.

4. É POSSÍVEL PREVENIR A DEPRESSÃO PÓS-PARTO?


Não há como evitar o primeiro episódio de depressão pós-parto. Mesmo mulheres sem antecedentes de
 depressão, que queiram engravidar e que tiveram uma gestação anterior sem complicações obstétricas
 e parto tranquilo podem desenvolver a doença. Ainda assim, é preciso ficar de olho naquelas que já
 manifestaram quadros depressivos anteriormente (seja no pós-parto, fora dele ou durante a gravidez),
 porque a possibilidade de o episódio se repetir é grande e quanto antes o tratamento for instituído, melhor.


5. A DOENÇA É MAIS FREQUENTE NO NASCIMENTO DO PRIMEIRO FILHO?


Depende dos antecedentes da mulher. Se ela teve depressão no pós-parto de um filho, a possibilidade de
 o quadro se repetir em outra gestação é de 50%. A recorrência da depressão é muito alta. Depressão é
 considerada uma doença episódica recorrente cuja tendência é manifestar-se novamente, se repetida a
 situação em que ela surgiu pela primeira vez. No caso da depressão comum, cerca de 50% das pessoas
 que sofreram da doença a terão novamente em algum momento. Entre as que tiveram depressão no período
 pós-parto, cerca de 30% correm o risco de desenvolver a doença fora desse período.

Fonte: Dr. Frederico Navas Demétrio, psiquiatra e supervisor do Ambulatório de Doenças Afetivas do
 Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.